Visão



Alma Portuguesa

Tradições e saberes que nunca ficam fora do prazo, concentrados num espaço luminoso à beira-Douro

O que poderia dizer este espaço sobre o ser português? Temos o romantismo a inocência dos Lenços dos Namorados de Vila Verde. A folia e a malícia dos caretos de Lazarim. O imaginário riquíssimo do figurado de Barcelos, transmitido de geração em geração, como é o caso da família Ramalho. E a este ramalhete de tradições artesãs juntaram-se novas propostas artísticas, por vezes denominadas de artesanato urbano, a dar mostras de uma criatividade recomendável dentro de portas. Entre umas e outras, não foram criadas barreiras. "Não quis fazer distinções entre o erudito e o popular, porque ambos têm valor", defende Isabel Dores, proprietária da Corações Habitados, inaugurada há cerca de dois meses.
A localização invejável da loja, a dois passos da Ribeira e virada para o rio Douro, permite dar a conhecer algumas das "imagens de marca" portuguesas. "Quis ir ao encontro do que melhor se faz no País", afirma Isabel. De facto, não existem concessões de gosto. Além dos produtos já referidos, vemos os bonecos de barro de Estremoz, os sabonetes da Ach Brito, da Confiança e da Castelbel, os brinquedos de chapa da antiga fábrica AML, a nova filigrana de Liliana Guerreiro, a reinvenção dos azulejos de Rita Morais, os "trapos" transformados em carteiras de Maria Madeira, entre muitos outros. "Fiz uma pesquisa e contactei pessoas de todo o País. Não fiquei surpreendida, porque já conhecia muitas delas, mas sim orgulhosa com o que encontrei", conta. Para adoçar a boca, também não faltam, pro exemplo, biscoitos artesanais alentejanos ou compotas.
Futuramente, as prateleiras carregarão uma pequena secção de discos e de livros dos grandes nomes da nossa poesia, também eles responsáveis pela definição da alma portuguesa. Foi, aliás, um poema de Eugénio de Andrade a baptizar esta loja. Fala das mãos de um homem, transmissoras de um "coração alegre e povoado". Tal como as mãos destes artesãos.

[Texto de Joana Loureiro]
nov. 2008